Li hoje uma
entrevista de João Marcello Bôscoli, fundador e presidente da gravadora
Trama, na Exame. O título da entrevista me deixou pensando como esses títulos apocalípticos sempre se revelam demasiadamente empolgados ou pessimistas sobre algum assunto. É difícil pensar que as
Majors sairão do jogo assim tão facilmente. Todas as grandes gravadoras fazem parte de conglomerados de mídia e ainda possuem um poder grande sobre os artistas e sobre os consumidores.
Para ter certeza disso, basta ver os inúmeros processos movidos por essas empresas nos Estados Unidos contra pessoas que baixam arquivos na Internet. Mesmo assim, há pessoas que pensam diferente. Pode ser que a fala de Bôscoli seja apenas uma desistência, uma espécie de "tudo bem, eu me rendo". Afinal, não há mais como bloquear a troca de arquivos mp3 entre as pessoas. Basta proibir um software de compartilhamento que surgem vários outros no lugar dele. Leia a entrevista feita por Tiago Maranhão e tire as suas conclusões. Seja você um apocalíptico ou um integrado, como diria Umberto Eco.
1) Se a Trama está dando de graça seu principal patrimônio, que são as músicas dos artistas contratados, como vai ganhar dinheiro?
As vendas de mídias físicas, como os CDs, representam hoje apenas 14% de nosso faturamento. Criamos um modelo no qual as pessoas baixam músicas de graça e o artista recebe o pagamento via patrocínios captados pela Trama. Além disso, produzimos shows, programas de rádio e TV, temos nossa editora, agenciamento de artistas, fazemos licenciamentos e temos nossos estúdios.
2) Que tipo de empresas se interessam por esses patrocínios musicais?
Os principais anunciantes de mídias tradicionais, como revistas, jornais e televisão, também são os principais interessados por esses projetos. Já fizemos parcerias com empresas como a Volkswagen, a Natura, a
Vivo e a Microsoft.
3) Qual o retorno de uma empresa que patrocina um álbum?
A música gera um laço emotivo perene. As empresas que patrocinam projetos procuram pegar carona nessa relação especial entre o ouvinte e o artista.
4) Nesse novo modelo de negócios, ainda há espaço para grandes gravadoras e conglomerados como a Warner dos anos 80?
As gravadoras acabaram. Felizmente. Pelo menos no sentido de empresas que vivem de vender música, como era no passado. Há espaço para o surgimento de outras grandes empresas no setor, mas não com essa mesma mentalidade.
5) Onde as gravadoras erraram?
Elas começaram a morrer quando declararam guerra à internet. Foi uma burrice, equivalente a uma fábrica de velas tentar processar Thomas Edison por inventar a lâmpada. O trânsito de arquivos musicais na internet é uma coisa sem volta. Como explicar a um adolescente de hoje a ilegalidade do MP3?
6) Os artistas não vão ficar a ver navios num mundo onde ninguém paga por suas músicas?
Alguém sempre pagará pelas músicas, mas não necessariamente o público. E a maior receita dos artistas sempre veio dos shows e não dos discos.
7) As gravadoras e os CDs vão deixar saudades?
As novas empresas do setor, em vez de basear seu negócio na venda de uma única mídia, o CD, vão ter de diversificar sua atuação. E o momento é bastante oportuno. A música hoje está mais presente na vida das pessoas do que nunca. Em games, computadores, celulares, players digitais portáteis e outros lugares onde nunca esteve antes. Quanto ao CD, basta lembrar que ele risca, o encarte rasga e o estojo desmonta. Alguém vai sentir saudades de um negócio desses?