sábado, 22 de maio de 2010

Negociação


A relação dos dois começou por causa de encontros profissionais. Felipe, engenheiro, foi apresentado à Luana em uma reunião de orçamento para a construção de um conjunto de apartamentos na Tijuca. Ele ficou um pouco desconfiado. Felipe não aceitou de imediato que uma mulher cuidasse das contas de uma empreiteira.

Mas é claro que ele guardou esses pensamentos para ele, um orgulho de quem se considera politicamente correto. Embora, nesse caso, o que é correto politicamente já carrega a má fama da palavra política no nome. As impressões de Felipe sobre a qualificação da Luana para o negócio não mudaram ao longo de dois meses, mas a situação mudou um pouco no terceiro mês.

Mesmo sabendo que Luana era casada, Felipe reparou que a assertividade dela significava algo mais. Uma grande mentira. Mas não seria Luana que poderia revelar isso pra ele. Tudo acabará se houver sucesso na negociação, pensou ele. Inventou uma viagem, deu algumas desculpas diferentes para cada interessado. Sequer estava interessado em parecer verossímil.

Em seus e-mails, protegido pela frieza do que era digitado à distância, Felipe quis se mostrar mais. Ele passou a fazer perguntas, escrever as mensagens com uma linguagem semelhante às conversas informais. Tudo com a intenção de se aproximar. Enquanto estava em casa, ele criou uma rotina de envio de mensagens. Aquela mentira, pelo menos para a Luana, precisava de um pouco de verdade.

Luana começou a achar aquilo um pouco estranho, demorava a responder, mas as mensagens supostamente profissionais continuavam chegando. Ela, todos os dias às seis da tarde, já em casa, lia todos os e-mails e não respondia aos pedidos do Felipe. No fatídico último mês de contato entre os dois resolveu tirar aquilo à prova.

Respondeu às mensagens dele, insinuando que queria mais uma reunião pessoalmente para finalizar o planejamento dos negócios. Após a resposta afirmativa de Felipe, ela finalmente compreendeu que as intenções do engenheiro escondiam flertes. Ela também queria, mas só depois de um tempo. Então continuou.

Felipe sentiu algo de novo nas mensagens dela e duvidou. Isso poderia acabar prejudicando a venda de materiais. Ele sabia que mais envolvimentos com funcionárias dos fornecedores poderiam significar menos opções de negócios. Mas insistiu, não tinha mais volta. Reunião marcada, restaurante escolhido com cuidado e todas as intenções reservadas para o que poderia acontecer após o encontro profissional.

Luana não se preocupava com ele, preferia pensar que não daria em nada. E essa certeza trazia tranquilidade para continuar mandando os e-mails. Faltando uma semana para o dia marcado, Luana deixou o computador ligado e foi tomar banho. Seu filho de sete anos entrou no quarto e tropeçou no computador por acidente. O defeito fez com que Luana perdesse a negociação e não descobrisse as intenções do Felipe.

Um comentário:

Gabriel De Laurentis disse...

Interessante...
Aguardo mais contos...

Eles são baseados em fatos reais ou somente fruta da imaginação do autor?

Abraços!!!